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Foto do escritorJuliana Duarte

Do Caminho São Sebastião para a França


Foto: Hugo Castro Alves/Divulgação


França, país localizado na Europa Ocidental, é o maior da União Europeia em área e o terceiro maior da Europa. Fica a aproximadamente 9.412,50 km do Brasil, contando o trajeto de São Paulo a Paris. Porém, para dois dos moradores do Caminho São Sebastião, essa distância, mesmo grande, não conseguiu impedi-los de levar a música brasileira e a capoeira para o outro lado do oceano, para participarem de um festival de música.


O convite para a viagem aconteceu em julho deste ano. No embarque para a realização de um sonho estavam 15 pessoas. Entre elas, Ygor da Silva Ferreira, 16 anos, que nunca tinha conhecido outro país. Nem viajado de avião.


“Foi uma viagem maravilhosa”, conta. Segundo ele, o grupo passou por La Ciotat e Paris, onde fizeram shows abertos ao público e um fechado, dentro de uma casa.


Entre os comentários sobre os franceses serem muito parados e desanimados, Ygor diz que acabou se surpreendendo. “Quando tocamos, todos ficaram pulando. Parecia um Carnaval”.


Ele relembra um dos momentos mais engraçados da viagem. “Nós queríamos comprar um miojo de galinha e chegamos ao mercado, mas não sabíamos como se falava galinha em francês”. Para resolver o problema, o garoto conta que imitou a ave. “Foi bem engraçado”.


Ygor, que teve o primeiro contato com um país fora do Brasil, conta que as diferenças não são tão grandes. “Você acha que é outro mundo, mas quando chega lá, parece que é aqui do lado. A gente só estranha a língua”.


O mestre de capoeira, Fernando Eduardo Morais de Oliveira, 45 anos, o Nando, também esteve na viagem. Ele mora desde os 10 anos no Caminho São Sebastião. Sua história com a modalidade começou bem antes, aos 8, quando ainda morava no Morro da Penha.


“Eu tinha ido buscar pão e, na volta, escutei um barulho de berimbau – eu nem sabia o que era berimbau! Ouvi aquela batida e resolvi conferir. Fiquei olhando e vi o pessoal fazendo movimentos para lá e para cá”. De tanta empolgação, Nando conta que demorou para levar os pães para casa e eles já estavam frios quando chegou. “Minha mãe me deu uma surra”, relembra.


Nando começou a treinar por sua conta, já que seus pais não o apoiavam. Aos dez anos, foi morar no Caminho São Sebastião. “Comecei a ensinar o que sabia para a molecada”. Na época, ele conta que usava as fitas cassete, roupa e livros que já tinha adquirido. “Foi difícil me impor como líder do grupo, que podia ensinar alguma coisa que tinha aprendido”.


A chance de ir para a França surgiu porque três músicas do Arte no Dique tinham introdução do berimbau e três dos seus alunos também faziam percussão. “Eu jamais pensei que, nas minhas condições, eu iria fazer uma viagem para lá”.


Segundo ele, a recepção foi muito boa. “O povo francês é bem receptivo. Adoraram a apresentação”. Quando foram visitar a Torre Eiffel, o grupo se reuniu para tocar pandeiro e bater palmas em frente ao ponto turístico mais famoso do país. “Vários franceses chegavam lá perguntando ‘Brasile? Brasile?’ e ficavam nos assistindo”.


Para Nando, essa oportunidade foi maravilhosa. “O maior aprendizado que eu tive é que a gente pode buscar e isso só depende de nós”. Na camisa, no cartão e na boca de Nando, a frase que ele sempre reproduz é “Querer é poder, poder é vencer e só depende de você”. Há um ano e meio, ele ministra aulas de capoeira na sede da Arte no Dique.


Após essa conquista, Nando conta que nunca imaginou que chegaria onde chegou com a capoeira. E passa isso para os alunos. “Tento me colocar como exemplo para eles. Moro aqui há 35 anos, estou batalhando para ter um espaço melhor. Estou conquistando meu lugar sem atropelar nem tirar nada de ninguém”.


Dentro destas conquistas, Nando já se graduou em Educação Física e hoje cursa pós-graduação, ambas na Unisanta. Um exemplo de que é possível sonhar. E ainda mais importante: realizar.


Banda Querô: sucesso também no Brasil


Formada em 2003 após os meninos começarem a se qualificar e a serem convidados para apresentações, a Banda Querô é o primeiro produto cultural do Instituto Arte no Dique. A banda, que já realizou dezenas de apresentações pelo Brasil, já foi revelação no Carnaval de Salvador (BA), sendo reverenciada por personalidades, como os músicos Gilberto Gil e Margareth Menezes, o governador da Bahia, Jaques Wagner, além das principais emissoras do Brasil que estavam cobrindo o evento.


Com uma batida que mistura ritmo e harmonia, a Banda Querô tem forte influência do samba reggae. O nome é uma homenagem ao personagem principal de Uma Reportagem Maldita – Querô, do dramaturgo santista Plínio Marcos. A obra, publicada em 1976, foi adaptada para o cinema duas vezes: em 1977, sob o título Barra Pesada, e em 2007, com o nome Querô – O Filme.


Entre as principais apresentações da banda estão as do Carnaval de Salvador nos anos 2008, 2009 e 2010, além de outros eventos na Baixada Santista, como o Tributo a Michael Jackson, no Shopping Litoral Plaza (Praia Grande), apresentações nos intervalos dos jogos do Santos Futebol Clube, em 2004, abertura do VI Curta Santos, entre outros. Além disso, em 2007, a Banda Querô lançou seu álbum de estreia sob o nome de A Arte no Dique pela Zaid Records.


Atualmente comandada por Jow Correia, a Banda Querô tem como objetivo fazer shows e profissionalizar os meninos do Dique. Conta com dez participantes, que tocam instrumentos como percussão, baixo e guitarra.


Para participar da Banda Querô, os interessados devem se inscrever no curso de percussão no Instituto Arte no Dique, localizado à Rua Brigadeiro Faria Lima, 1349, no Jardim Rádio Clube, em Santos. Para informações adicionais, ligue para (13) 32099464 ou acesse o site http:// http://www.artenodique.org.br.

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